quinta-feira, 24 de abril de 2008

Línguas mortas

Segundo dados revelados pela Unesco, a estimativa é que uma língua morra a cada duas semanas e que mais de 50% das 6.000 línguas do mundo desapareçam ao longo deste século.
A organização revelou ainda que a principal razão para esse fato é que boa parte desses idiomas são falados por menos de 2.500 pessoas, quando são necessários, no mínimo, 100 mil falantes para passar um língua de geração em geração.
A morte de uma língua não significa que ela esteja fadada ao esquecimento total graças a alguns poucos e corajosos estudantes. Com algumas dificuldades, eles encaram o desafio de aprender esses idiomas e conseguem, assim, evitar sua extinção completa.
“Um dos problemas está no fato de que não ‘cruzamos’ com essa língua no cotidiano, ou seja, não existem músicas, filmes ou canais de TV a cabo nessas línguas. Por isso, a experiência se restringe, limitando-se às horas de aula, ao material de estudo e alguns textos. Outra dificuldade, é que “a maior parte da população acredita que seus estudos sejam inúteis e, até mesmo, uma perda de tempo e recurso investidos, o que está longe de ser verdade”. Em um país como o Brasil, em que não se valoriza o conhecimento e a produção científica, poucas pessoas propõem-se a estudar algo com aplicabilidade restrita no mercado.
Problemáticas conceituais à parte, não há motivo para se assustar. Superados as dificuldades, o resultado em estudar um desses idiomas pode ser bastante proveitoso, basta saber como e onde usar o conhecimento. As aulas de latim foram importantes porque auxiliaram a compreender melhor estruturas morfossintáticas e semânticas da língua portuguesa e, que o estudo de latim, ajudou a ter bastante facilidade em português.
Conhecer a história da língua que falamos reflete uma preocupação com a nossa cultura e a nossa história, acho que demonstra interesse pela história da humanidade.
A preocupação em estudar línguas mortas não é de hoje. Desde o século passado, o filósofo e cientista político Antonio Gramsci defendia a idéia de que o estudo do latim e do grego eram fundamentais “para conhecer, diretamente, a civilização dos dois povos, pressuposto necessário da civilização moderna, ou seja, para sermos nós mesmos e nos conhecermos de maneira consciente”.
O italiano dizia também que o latim, por exemplo, ajudava no conhecimento de sua língua, o italiano. Seguindo a mesma linha de pensamento, “as línguas portuguesa, italiana e romena, por exemplo, são como uma espécie de evolução natural da língua latina. Elas seriam o latim de nossos dias”.
Por que estudar?
A motivação para o estudo de um idioma morto varia de acordo com os interesses de cada um. O interesse por línguas, de uma maneira geral, foi o start para que começasse a estudar latim e sânscrito. “Eu optei por latim porque foi ele que deu origem ao português, então compreendendo esta língua, compreendemos o nosso idioma. A opção do sânscrito foi porque ele influenciou todas as línguas indo-européias. Acredito que ambas as línguas possuem uma importância muito grande para quem, como eu, é professor de idiomas europeus”.
“O vocabulário grego de Filosofia é muito peculiar e perde significado quando traduzido”. “Ou então, repetindo Sócrates, quando foi perguntado porque iniciava o estudo de flauta justamente às vésperas de sua execução: ‘Para aprender’. Só isso”, completa.
Mesmo com bons motivos para estudar uma língua morta, o aprofundamento nesses idiomas, infelizmente, ainda é visto com preconceito por muita gente. “Em um país como o Brasil, em que não se valorizam o conhecimento e a produção científica, poucos se propõem a estudar algo com aplicabilidade restrita”. Porém, apesar das dificuldades em utilizar esse conhecimento no mercado de trabalho, não dá pra deixar de relembrar que a história da humanidade está diretamente ligada a esses estudos, e que a morte de um idioma representa a perda de um componente essencial do patrimônio vivo da humanidade.

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