domingo, 13 de setembro de 2009

Auto-hemoterapia

AUTO-HEMOTERAPIA -POR FERNANDO TOSCANO (*)
O QUE É:
A auto-hemoterapia é, como o próprio nome sugere, a terapia com utilização de sangue da própria pessoa. O sistema consiste em retirar 5 ml, 10 ml ou 20 ml de sangue da pessoa e, no mesmo momento, aplicá-lo no músculo (braço ou nádegas) de forma que o corpo do indivíduo crie mecanismos de defesa elevando os níveis de macrófagos de 5% para 22% (São os macrófagos que fazem a "limpeza" do nosso corpo, eliminando a fibrina, bactérias e vírus do organismo e são produzidos pela medula óssea). Esses níveis elevados de defesa, criados pelo próprio organismo, atingem o pico após 8 (oito) horas de aplicada a injeção e duram por até 05 (cinco) dias, quando então começam a diminuir até atingirem os valores normais de uma pessoa sadia (5%).
Logicamente que, aumentando a defesa do próprio organismo, este está menos sujeito a uma série de enfermidades. Para quem não sabe, o remédio, quimicamente preparado pelos laboratórios, não curam doenças. Eles "forçam" o corpo a produzir essas defesas. Assim, o sistema é o mesmo sob o ponto de vista genérico só que sem a necessidade do uso de medicamentos - a maioria deles com efeitos colaterais. Outra vantagem é o custo praticamente zero (o que vai de encontro aos interesses dos laboratórios).
DOSAGEM: Dependendo do caso, se não for grave, a dosagem pode ser de 5 ml, dividindo 2,5 ml em cada deltóide (músculo do braço) ou em cada glúteo. Esta dosagem é para crianças. Normalmente, para adultos, a dosagem ideal é de 10 ml, dividido em 2 partes (5 ml em cada braço ou 10 ml no glúteo). Em casos gravíssimos, Dr. Moura recomenda 20 ml.
OPINIÃO:Por Fernando Toscano:
Em 2004 iniciou-se uma verdadeira "guerra nos bastidores" quando o médico clínico-geral, Dr. Luiz Moura, atualmente com 82 anos, do Rio de Janeiro, resolveu "abrir a boca" e confessar os benefícios desse tratamento alternativo, válido e barato, capaz de ajudar a curar doenças e auxiliar no tratamento de outras, concedendo uma entrevista que foi gravada em vídeo - reportagem de Ana Martinez e Luiz Fernando Sarmento - e hoje está circulando em todo o país. São milhares de relatos favoráveis, pessoas que fazem uso da auto-hemoterapia gerando grandes benefícios à sua saúde.
Eu mesmo, sou adepto da hemoterapia, desde o início de abril/2007 e me sinto muito bem, mais disposto, pois meu ritmo de vida é alucinante - trabalho 6 dias por semana, em média 14 horas por dia ainda encontro tempo para me divertir e fazer parte de trabalhos sociais junto às comunidades da igreja na qual faço parte. As pessoas me questionam coisas do tipo: "- Fernando, fico admirado (a) como você agüenta um pique desses todos os dias". Outro dia estive a pensar e vi que, realmente, cada vez me canso menos e estou sempre disposto o que não acontecia até o início deste ano (me sentia extremamente cansado e ansioso).
Uma quantidade enorme de pessoas tem procurado, com sucesso, adotar a prática da auto-hemoterapia e, como não poderia deixar de ser, começaram as pressões contrárias. O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a ANVISA foram os primeiros: médicos e farmacêuticos estão proibidos de utilizar a técnica pois, segundo eles, não "existem estudos científicos que comprovem algum benefício ao usuário da auto-hemoterapia e os riscos não foram ainda avaliados". Posteriormente, dia 22 de abril de 2007, a Rede Globo de Televisão, em cadeia nacional, no programa "Fantástico" fez uma série de críticas ao Dr. Luiz Moura e sua técnica, mesmo ouvindo diversas pessoas com opiniões favoráveis à auto-hemoterapia e tendo sido comprovados diversos benefícios desse "tratamento alternativo" (Veja aqui). O que se pode observar é que o Brasil é mesmo um país atrasado, que serve aos interesses dos poderosos - como sempre. A Rede Globo não tem condições técnicas para avaliar ou julgar algo de tamanha importância. Quem esses jornalistas pensam que são afrontando o conhecimento e a experiência de um médico com 64 anos de medicina e usuário da técnica há mais de 30 anos? ANVISA, CFM, CRMs, Rede Globo e laboratórios são poderosos, mas contra o povo, nada são. Na verdade são todos incompetentes nas funções que exercem, ultrapassados e atendem interesses sob a sombra da verdade, que vão de encontro às verdadeiras necessidades da sociedade brasileira. Por esses motivos também entrei nessa guerra e irei até o fim. Me desculpem os termos, mas que se danem os interesses dos laboratórios, que se dane a burocracia pública dessa péssima agência (ANVISA) que tanto mal faz aos interesses do Brasil (são muitos casos conhecidos como o do polímero já divulgado aqui no Portal Brasil e as exigências descabidas aos laboratórios e empresas brasileiras), que se danem o CFM e CRMs que sabem da técnica e nunca se posicionaram, nunca efetuaram estudos adequados e agora vêm ameaçando com sanções aos profissionais de saúde que aplicarem a técnica em seus clientes e que se dane a Rede Globo que sempre atendeu interesses dos poderosos e também procura o marketing próprio num programa que de fantástico nunca teve nada. Resultado: o povo não aceitou, encarou a briga e vamos vencer! Ninguém, repito em letras maiúsculas, NINGUÉM provou que a técnica faz algum mal - mas proibiram...
Dr. Luís Moura: CRM 52 4.169-0Rua Conde de Bonfim, 377, sala 803 - TijucaCep: 20520-051Rio de Janeiro - RJ
Vídeo com a entrevista completa do Dr. Luiz Moura (2h38m): http://video.google.com/videoplay?docid=-4554320633785209094&hl=en Vídeo transcrito (digitado) com a entrevista do Dr. Luiz Moura: Portal Brasil - Dr. Luiz Moura, entrevista O próprio Conselho Regional de Medicina não conseguiu condenar o Dr. Luiz Moura: Portal Brasil - acórdão CRM/RJ
Quem é o Dr. Luís Moura (por Dr. Eugênio Marer, Psicólogo há mais de 30 anos, CRP nº 16.625-05):
"O ataque pessoal ao Dr. Luiz Moura mostra a ignorância de quem ataca a quem já foi vice-diretor do Hospital Cardoso Fontes e do Hospital de Bonsucesso, dois dos maiores hospitais do Rio de Janeiro, presidente do Inps,na época em que este englobava o Inamps, diretor da Dimed, órgão de fiscalização que deu lugar a Anvisa, diretor de Medicina Social do Estado do Rio de Janeiro, fundador da CEME, Central de Medicamentos - (se o Governador José Serra é o pai dos genéricos, o Dr Luiz Moura é o avô...). Aposentou-se como Coordenador Administrativo Médico do Estado do Rio de Janeiro. Com 82 anos dirige seu Fiat, de Visconde de Mauá até o Rio de Janeiro (3 horas de viagem) duas vezes por mês, para atender a seus pacientes a preços irrisórios por amor a Medicina. Conheço o Dr. Luiz Moura há mais de 20 anos – sou psicólogo há mais de 30 e presenciei o sucesso de seu trabalho com muitas pessoas, inclusive médicos que fizeram o controle com exames clínicos de seu processo."FONTE: http://br.groups.yahoo.com/group/auto-hemoterapia/message/1619.
Informações adicionais sobre a auto-hemoterapia:
Reportagem da Rede Globo: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/Fantastico/0,,AA1522894-4005-668052-0-22042007,00.html Carta do Dr. Eugênio Marer (Psicólogo) rebatendo a reportagem da Rede Globo: http://br.groups.yahoo.com/group/auto-hemoterapia/message/1619 Carta aberta ao CFM e CRM (Por Álvaro Moura, filho do Dr. Luís Moura): Portal Brasil - carta abertaMatéria de capa do Jornal "Bem-Estar", de Porto Alegre (Por Ralph Viana): http://br.groups.yahoo.com:80/group/auto-hemoterapia/message/1640Técnicos em hemoterapia: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=1331897
Bate papo com pacientes: http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=7768575&tid=2518643730956043063Bate papo com enfermeiros: http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=7768575&tid=2518643228444869431Bate papo com médicos: http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=7768575&tid=2518643612844442423
Comunidades de informação e apoio à auto-hemoterapia no Orkut:
- Relatos em favor do Dr. Luiz Moura: http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=7768575&tid=2531505218778773130- http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=7768575- http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=20753167 - http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=8654085 - http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=7739092 - http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=28036151 - http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=30042324
Apresentação e locais de aplicação (por estado):
- http://autohemo.blogspot.com/#apresentacao


-

Informaçãoes ocultadas sobre a gripe suina

O governo do México e a agroindústria procuram desmentir o óbvio: a gripe que assusta o mundo se iniciou em La Glória, distrito de Perote, a 10 quilômetros da criação de porcos das Granjas Carroll, subsidiária de poderosa multinacional do ramo, a Smithfield Foods. La Glória é uma das mais pobres povoações do país. O primeiro a contrair a enfermidade (o paciente zero, de acordo com a linguagem médica) foi o menino Edgar Hernández, de 4 anos, que conseguiu sobreviver depois de medicado. Provavelmente seu organismo tenha servido de plataforma para a combinação genética que tornaria o vírus mais poderoso. Uma gripe estranha já havia sido constatada em La Glória, em dezembro do ano passado e, em março, passou a disseminar-se rapidamente.
Os moradores de La Glória – alguns deles trabalhadores da Carroll – não têm dúvida: a fonte da enfermidade é o criatório de porcos, que produz quase 1 milhão de animais por ano. Segundo as informações, as fezes e a urina dos porcos são depositadas em tanques de oxidação, a céu aberto, sobre cuja superfície densas nuvens de moscas se reproduzem. A indústria tornou infernal a vida dos moradores de La Glória, que, situados em nível inferior na encosta da serra, recebem as águas poluídas nos riachos e lençóis freáticos. A contaminação do subsolo pelos tanques já foi denunciada às autoridades, por uma agente municipal de saúde, Bertha Crisóstomo, ainda em fevereiro, quando começaram a surgir casos de gripe e diarreia na comunidade, mas de nada adiantou. Segundo o deputado Atanásio Duran, as Granjas Carroll haviam sido expulsas da Virgínia e da Carolina do Norte por danos ambientais. Dentro das normas do Nafta, puderam transferir-se, em 1994, para Perote, com o apoio do governo mexicano. Pelo tratado, a empresa norte-americana não está sujeita ao controle das autoridades do país. É o drama dos países dominados pelo neoliberalismo: sempre aceitam a podridão que mata.
O episódio conduz a algumas reflexões sobre o sistema agroindustrial moderno. Como a finalidade das empresas é o lucro, todas as suas operações, incluídas as de natureza política, se subordinam a essa razão. A concentração da indústria de alimentos, com a criação e o abate de animais em grande escala, mesmo quando acompanhada de todos os cuidados, é ameaça permanente aos trabalhadores e aos vizinhos. A criação em pequena escala – no nível da exploração familiar – tem, entre outras vantagens, a de limitar os possíveis casos de enfermidade, com a eliminação imediata do foco.
Os animais são alimentados com rações que levam 17% de farinha de peixe, conforme a Organic Consumers Association, dos Estados Unidos, embora os porcos não comam peixe na natureza. De acordo com outras fontes, os animais são vacinados, tratados preventivamente com antibióticos e antivirais, submetidos a hormônios e mutações genéticas, o que também explica sua resistência a alguns agentes infecciosos. Assim sendo, tornam-se hospedeiros que podem transmitir os vírus aos seres humanos, como ocorreu no México, segundo supõem as autoridades sanitárias.
As Granjas Carroll – como ocorre em outras latitudes e com empresas de todos os tipos – mantêm uma fundação social na região, em que aplicam parcela ínfima de seus lucros. É o imposto da hipocrisia. Assim, esses capitalistas engambelam a opinião pública e neutralizam a oposição da comunidade. A ação social deve ser do Estado, custeada com os recursos tributários justos. O que tem ocorrido é o contrário disso: os estados subsidiam grandes empresas, e estas atribuem migalhas à mal chamada "ação social". Quando acusadas de violar as leis, as empresas se justificam – como ocorre, no Brasil, com a Daslu – argumentando que custeiam os estudos de uma dezena de crianças, distribuem uma centena de cestas básicas e mantêm uma quadra de vôlei nas vizinhanças.
O governo mexicano pressionou, e a Organização Mundial de Saúde concordou em mudar o nome da gripe suína para Gripe-A. Ao retirar o adjetivo que identificava sua etiologia, ocultou a informação a que os povos têm direito. A doença foi diagnosticada em um menino de La Glória, ao lado das águas infectadas pelas Granjas Carroll, empresa norte-americana criadora de porcos, e no exame se encontrou a cepa da gripe suína. O resto, pelo que se sabe até agora, é o conluio entre o governo conservador do México e as Granjas Carroll – com a cumplicidade da OMS.
Sexta-feira, 01 de Maio de 2009 - 00:00

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A Teologia da Libertação: Leonardo Boff e Frei Betto

Michael Löwy[1]
Os cristãos comprometidos socialmente são um dos componentes mais ativos e importantes do movimento altermundista; particularmente, porém não somente na América Latina e especialmente no Brasil, país que acolheu as primeiras reuniões do Fórum Social Mundial (FSM). Um dos iniciadores do FSM, Chico Whitaker, membro da "Comissão Justiça e Paz" da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pertence a esta esfera de influência, o mesmo que o sacerdote belga François Houtart, amigo e professor de Camilo Torres, promotor da revista Alternatives Sud, fundador do "Centro Tricontinental" (CETRI) e uma das figuras intelectuais mais influentes do Fórum.
Podemos datar o nascimento dessa corrente, que poderíamos denominar como "cristianismo da libertação" no começo dos anos 60, quando a Juventude Universitária Católica brasileira (JUC), alimentada pela cultura católica francesa progressista (Emmanuel Mounier e a revista Esprit, o padre Lebret e o movimento "Economia y Humanismo", o Karl Marx do jesuíta J.Y. Calvez), formula por primeira vez, em nome do cristianismo, uma proposta radical de transformação social. Esse movimento se estende depois a outros países do continente e encontra, a partir dos anos 70, uma expressão cultural, política e espiritual na "Teologia da Libertação".
Os dois principais teólogos da libertação brasileiros, Leonardo Boff e Frei Betto, estão, portanto, entre os precursores e inspiradores do altermundismo; com seus escritos e suas palavras participam ativamente nas mobilizações do "movimento dos movimentos" e nos encontros do Fórum Social Mundial. Se sua influencia é muito significativa no Brasil, onde muitos militantes dos movimentos sociais, tais como sindicatos, MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e movimentos de mulheres provêm de comunidades eclesiais de base (CEBs) conhecidas na Teologia da Libertação, seus escritos também são muito conhecidos entre os cristãos de outros países, tanto da América Latina quanto do resto do mundo.
Se houvesse que resumir a idéia central da Teologia da Libertação em uma só frase, seria "opção preferencial pelos pobres". Qual é a novidade? Por ventura, a Igreja não esteve sempre, caritativamente, atenta ao sofrimento dos pobres? A diferença – capital - é que o cristianismo da libertação já não considera os pobres como simples objetos de ajuda, compaixão ou caridade, mas como protagonistas de sua própria história, artífices de sua própria libertação. O papel dos cristãos comprometidos socialmente é participar na "longa marcha" dos pobres rumo à "terra prometida" - a liberdade -, contribuindo para sua organização e emancipação sociais.
O conceito de "pobre" tem, obviamente, um profundo alcance religioso no cristianismo; porém, corresponde também a uma realidade social essencial no Brasil e na América Latina: a existência de uma imensa massa de despossuídos, tanto nas cidades quanto no campo, que não são todos proletários ou trabalhadores. Alguns sindicalistas cristãos latino-americanos falam de "pobretariado" para descrever essa classe de deserdados que não somente são vítimas da exploração, mas, sobretudo, são vítimas da exclusão social pura e simples.
O processo de radicalização das culturas católicas do Brasil e América Latina que desembocou na criação da Teologia da Libertação não vai desde a cúpula da Igreja para irrigar sua base, nem a base popular vai à cúpula (duas versões que se encontram nos discursos dos sociólogos ou historiadores do fenômeno); mas da periferia rumo ao centro. As categorias ou setores sociais do âmbito religioso que serão o motor da renovação são todos, de alguma forma, marginais ou periféricos com relação à instituição: movimentos, leigos da Igreja e seus capelães; expertos leigos, sacerdotes estrangeiros, ordens religiosas. Em alguns casos, o movimento alcança o "centro" e consegue influir nas Conferências Episcopais (particularmente no Brasil), em outros casos fica bloqueado nas "margens" da instituição.
Apesar de que existem divergências significativas entre os teólogos da libertação, na maioria de seus escritos encontramos repetidos os temas fundamentais que constituem uma saída radical da doutrina tradicional e estabelecida das Igrejas Católica e Protestante:
- Uma implacável acusação moral e social contra o capitalismo como sistema injusto e iníquo, como forma de pecado estrutural.
- O uso do instrumento marxista para compreender as causas da pobreza, as contradições do capitalismo e as formas da luta de classes.
- A opção preferencial a favor dos pobres e a solidariedade com sua luta de emancipação social.
- O desenvolvimento de comunidades cristãs de base entre os pobres como a nova forma da Igreja e como alternativa ao modo de vida individualista imposto pelo sistema capitalista.
- A luta contra a idolatria (não o ateísmo) como inimigo principal da religião, isto é, contra os novos ídolos da morte, adorados pelos novos faraós, pelos novos Césares e pelos novos Herodes: O consumismo, a riqueza, o poder, a segurança nacional, o Estado, os exércitos; em poucas palavras, "a civilização cristã ocidental".

Examinemos mais de perto os escritos de Leonardo Boff e de Frei Betto, cujas idéias contribuíram, sem dúvida, à formação da cultura político-religiosa do componente cristão do altermundismo.
O livro de Leonardo Boff - na época, membro da ordem franciscana - Jesus Cristo Libertador, (Petrópolis, Vozes, 1971), pode ser considerado como a primeira obra da Teologia da Libertação no Brasil. Essencialmente, trata-se de uma obra de exegese bíblica; porém um dos capítulos, possivelmente o mais inovador, intitulado "Cristologia desde América Latina", expressa o desejo de que a Igreja possa "participar de maneira crítica no arranque global de libertação que a sociedade sul-americana conhece hoje". Segundo Boff, a hermenêutica bíblica de seu livro está inspirada pela realidade latino-americana, o que dá como resultado "a primazia do elemento antropológico sobre o eclesiástico, do utópico sobre o efetivo, do crítico sobre o dogmático, do social sobre o pessoal e da ortopráxis sobre a ortodoxia"; aqui se anunciam alguns dos temas fundamentais da Teologia da Libertação [1].
Personagem carismático, com uma cultura e uma criatividade enormes, ao mesmo tempo místico franciscano e combatente social, Boff converteu-se no principal representante brasileiro dessa nova corrente teológica. Em seu primeiro livro já encontramos referências ao "Princípio Esperança", de Ernst Bloch, porém, progressivamente, no curso dos anos 70, os conceitos e temas marxistas cada vez mais aparecem em sua obra até converter-se em um dos componentes fundamentais de sua reflexão sobre as causas da pobreza e a prática da solidariedade com a luta dos pobres por sua libertação.
Rechaçando o argumento conservador que pretende julgar o marxismo pelas práticas históricas do chamado "socialismo real", Boff constata, não sem ironia, que o mesmo que o Cristianismo não se identifica com os mecanismos da Santa Inquisição, o marxismo não tem porque se equiparar aos "socialismos" existentes, que "não representam uma alternativa desejável por conta de sua tirania burocrática e pelo sufocamento das liberdades individuais". O ideal socialista pode e deve assumir outras formas históricas [2]
Em 1981, Leonardo Boff publica o livro "Igreja, Carisma e Poder", uma reviravolta na história da Teologia da Libertação: por primeira vez desde a Reforma protestante, um sacerdote católico coloca em xeque, de maneira direta, a autoridade hierárquica da Igreja, seu estilo de poder romano-imperial, sua tradição de intolerância e dogmatismo - simbolizada durante vários séculos pela Inquisição, pela repressão de toda crítica vinda de baixo e o rechaço da liberdade de pensamento. Denuncia também a pretensão de infalibilidade da Igreja e o poder pessoal excessivo dos papas, que compara, não sem ironia, com o poder do secretário geral do Partido Comunista soviético.
Convocado pelo Vaticano em 1984 para um "colóquio" com a Santa Congregação para a Doutrina da Fé (antes, o Santo Ofício), dirigida pelo Cardenal Ratzinger, o teólogo brasileiro não abaixa a cabeça, nem nega retratar-se; permanece fiel a suas convicções e Roma o condena a um ano de "silencio obsequioso"; finalmente, frente à multiplicação dos protestos no Brasil e em outros lugares, a sansão foi reduzida em vários meses. Dez anos mais tarde, cansado das hostilidades, das proibições e das exclusões de Roma, Boff abandona a ordem dos franciscanos e a Igreja, sem, no entanto, abandonar sua atividade de teólogo católico.
A partir dos anos 90 do século passado, interessa-se cada vez mais pelas questões ecológicas que aborda com o espírito de amor místico e franciscano pela natureza e com uma perspectiva de crítica radical do sistema capitalista. Será o objeto do livro Dignitas Terrae. Ecologia: grito da terra, grito dos pobres, (S. Paulo, Ática, 1995) e escreve inúmeros ensaios filosóficos, éticos e teológicos que abordam esta problemática. Segundo Leonardo Boff, o encontro entre a Teologia da Libertação e a ecologia é resultado de uma constatação: "A mesma lógica do sistema dominante de acumulação e da organização social que conduz à exploração dos trabalhadores, leva também à pilhagem de nações inteiras, e, finalmente, à degradação da natureza".
Portanto, a Teologia da Libertação aspira a uma ruptura com a lógica desse sistema, uma ruptura radical que aponta a "libertar os pobres, os oprimidos e os excluídos, as vítimas da voracidade da acumulação injustamente distribuída e libertar a Terra, essa grande vítima sacrificada pela pilhagem sistemática de seus recursos, que põe em risco o equilíbrio físico, químico e biológico do planeta como um todo". O paradigma opressão/libertação aplica-se, pois, para ambas: as classes dominadas e exploradas por um lado; e a Terra e suas espécies vivas, por outro [3].
Amigo próximo de Leonardo Boff (publicaram alguns livros juntos), Frei Betto é, sem dúvida, um dos mais importantes teólogos da libertação do Brasil e da América Latina e um dos principais animadores das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base). Dirigente nacional da Juventude Estudantil Católica (JEC) no início dos anos 60, Carlos Alberto Libânio Christo (seu nome verdadeiro) começou sua educação espiritual e política com Santiago Maritain, Emmanuel Mounier, o padre Lebret e o grande intelectual católico brasileiro Alceu Amoroso Lima, porém, durante sua atividade militante na União Nacional dos Estudantes (UNE), descobriu O Manifesto Comunista e A Ideologia Alemã. Quando entrou como noviço na ordem dos dominicanos, em 1965, naquela época um dos principias focos de elaboração de uma interpretação liberacionista do cristianismo, já havia tomado firmemente a resolução de consagrar-se à luta da revolução brasileira [4].
Impressionado com a pobreza do mundo e pela ditadura militar estabelecida em 1964, incorpora-se a uma rede de dominicanos que simpatizam ativamente com a resistência armada contra o regime. Quando a repressão se intensificou, em 1969, socorreu a inúmeros revolucionários, ajudando-os a esconder-se ou a cruzar a fronteira para o Uruguai ou para a Argentina. Essa atividade custou-lhe cinco anos de prisão, de 1969 a 1973.
Em um livro fascinante publicado no Brasil e reeditado mais de dez vezes, Batismo de Sangue. Os dominicanos e a morte de Carlos Marighella (Rio de Janeiro, Ed. Bertrand, 1987), traça o retrato do dirigente do principal grupo revolucionário armado, assassinado pela polícia em 1969, bem como o de seus amigos dominicanos presos nas rodas da repressão e destroçados pela tortura. O último capítulo está consagrado à trágica figura de Frei Tito de Alencar, tão cruelmente torturado pela polícia brasileira que jamais recobrou seu equilíbrio psíquico: libertado da prisão e exilado na França, sofreu uma aguda mania de perseguição e cometeu suicídio em 1974.
As Cartas da Prisão de Betto, publicadas em 1977, mostram seu interesse pelo pensamento de Marx, a quem designava, para burlar a censura política, "o filósofo alemão". Em uma carta de outubro de 1971 a uma amiga, abadesa beneditina, observava: "a teoria econômico-social do filósofo alemão não teria existido sem as escandalosas contradições sociais provocadas pelo liberalismo econômico, que o conduziram a percebê-las, analisá-las e estabelecer princípios capazes de sobrepô-los" [5].
Depois de sua libertação da prisão, em 1973, Frei Betto consagrou-se à organização das comunidades Eclesiais de base. Durante os anos seguintes publicou vários folhetos que, em linguagem simples e inteligível, explicavam o sentido da Teologia da Libertação e o papel das CEBs. Logo, converteu-se em um dos principais dirigentes dos encontros intereclesiais nacionais, onde as CEBs de todas as regiões do Brasil intercambiam suas experiências sociais, políticas e religiosas. Em 1980 organizou o 4º Congresso internacional dos Teólogos do Terceiro Mundo.
Desde 1979 Betto é responsável pela Pastoral Operária de São Bernardo do Campo, cidade industrial do subúrbio de São Paulo, onde nasceu o novo sindicalismo brasileiro. Sem vincular-se a nenhuma organização política, não escondia suas simpatias pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Após a vitória eleitoral do candidato do PT, Luis Inácio Lula da Silva, em 2001, foi designado pelo novo presidente para dirigir o Programa "Fome Zero"; no entanto, descontente com a orientação econômica do governo, prisioneiro dos paradigmas neoliberais, demitiu-se de seu posto dois anos depois.
Enquanto alguns teólogos tentam reduzir o marxismo a uma "mediação sócio-analítica", Betto defende, em seu ensaio de 1986, Cristianismo e Marxismo, uma interpretação muito mais ampla da teoria marxista que inclui a ética e a utopia: "o marxismo é, sobretudo, uma teoria da práxis revolucionária (...). A prática revolucionária sobrepõe-se ao conceito e não se esgota na análise estritamente científica porque, necessariamente, inclui dimensões éticas, místicas e utópicas (...). Sem essa relação dialética teoria-práxis, o marxismo se esclerosa e se transforma em ortodoxia acadêmica perigosamente manipulável pelos que controlam os mecanismos do poder". Esta última frase é, sem dúvida, uma referencia crítica a URSS e aos países do socialismo real que constituem, em sua maneira de ver, uma experiência deformada por sua "ótica objetivista", sua "tendência economicista" e, sobretudo, por sua "metafísica do Estado".
Betto e Boff, como a imensa maioria dos teólogos da libertação, não aceitam a redução, tipicamente liberal, da religião a um "assunto privado" do indivíduo. Para eles, a religião é um assunto eminentemente público, social e político. Essa atitude não é necessariamente uma oposição à laicidade; de fato, o cristianismo da libertação situa-se nas antípodas do conservadorismo clerical:
- Predicando a separação total entre a Igreja e o Estado e a ruptura da cumplicidade tradicional entre o clero e os poderosos.
- Negando a idéia de um partido ou um sindicato católico e reconhecendo a necessária autonomia dos movimentos políticos e sociais populares.
- Rechaçando toda idéia de regresso ao "catolicismo político" pré-crítico e sua ilusão de uma "nova cristandade".
- Favorecendo a participação dos cristãos nos movimentos ou partidos populares seculares.

Para a Teologia da Libertação não existe contradição entre essa exigência de democracia moderna e secular e o compromisso dos cristãos no âmbito político. Trata-se de dois enfoques diferentes da relação entre religião e política: desde o ponto de vista institucional é imprescindível que prevaleça a separação e a autonomia; porém, no âmbito ético-político o imperativo essencial é o compromisso.
Levando em consideração essa orientação eminentemente prática e combativa, não é de se estranhar que muitos dos dirigentes e ativistas dos movimentos sociais mais importantes dos últimos anos - desde 1990 -, fossem formados na América Latina segundo as idéias da Teologia da libertação. Podemos dar como exemplo o MST, um dos movimentos mais impressionantes da história contemporânea do Brasil, por sua capacidade de mobilização, seu radicalismo, sua influência política e sua popularidade (além de ser uma das principais forças da organização do Fórum Social Mundial). A imensa maioria dos dirigentes ou ativistas do MST procedem das CEBs ou da Comissão Pastoral da Terra: sua formação religiosa, moral, social e, em certa medida, política, efetuou-se nas filas da "Igreja dos pobres". No entanto, desde sua origem, nos anos 70, o MST optou por ser um movimento leigo, secular e autônomo e independente com relação à Igreja. A imensa maioria de seus militantes é católica; porém, também há evangélicos e não crentes (poucos). A doutrina (socialista!) e a cultura do MST não fazem referência ao cristianismo; porém, podemos dizer que o estilo de militância, a fé na causa e a disposição ao sacrifício de seus membros, muitos têm sido vítimas de assassinatos e até de matanças coletivas durante os últimos anos, têm, provavelmente, fontes religiosas.
As correntes e os militantes cristãos que participam no movimento altermundista são muito diversos - ONGs, militantes dos sindicatos e partidos de esquerda, estruturas próximas à Igreja - e não partilham das mesmas escolhas políticas. Porém, a imensa maioria se reconhece nas grandes linhas da Teologia da Libertação, tal como a formularam Leonardo Boff, Frei Betto, Clodovis Boff, Hugo Assmann, José Comblin, Dom Tomás Balduino, Dom Helder Camara, Dom Pedro Casaldáliga, e tantos outros conhecidos e menos conhecidos, e partilham sua crítica ética e social do capitalismo e seu compromisso pela libertação dos pobres.

BIBLIOGRAFIA
Leonardo Boff, Jesus Christ Libérateur, Paris, Cerf, 1985.L. Boff, Eglise, Charisme et Pouvoir, Bruxelles, Lieu Commun 1985.L. Boff, O caminhar da Igreja com os oprimidos, Petrópolis, Vozes, 1988, 3a edição, prefacio de Darcy Ribeiro.L. Boff, "Je m’explique" (entrevistas con C. Dutilleux), Paris, Desclée de Brouwer, 1994.L. Boff, Dignitas Terrae. Ecologia: grito da terra, grito dos pobres, S.Paulo, Ática, 1995.L. Boff, "Libertação integra: do pobre e da terra", in A teologia da libertação. Balanço e Perspectivas, S.Paulo, Ática, 1996.Fr. Fernando, Fr. Ivo, Fr. Betto, O canto na fogueira. Cartas de três dominicanos quando em cárcere político, Petrópolis, Vozes, 1977.Frei Betto, Cristianismo e Marxismo, Petrópolis, Vozes, 1986.Frei Betto, Batismo de Sangue. Os dominicanos e a morte de Carlos Marighella, Rio de Janeiro, Editora Bertrand, 1987.Théologies de la libération. Documents et debats, Paris, Le Cerf, 1985.Michael Löwy, La guerre des dieux. Religion et politique en Amerique Latine, Paris, Ed. du Felin, 1998.
NOTAS:
[1] L. Boff, Jesus Christ Libérateur, París, Cerf, 1985, pp. 51-55. Ibid. p. 275.[2] L.Boff, "Libertação integra: do pobre et da terra", in A teologia da libertação. Balanço e Perspectivas, S.Paulo, Ática, 1996, pp. 115, 124-128.[3] Entrevista de Frei Betto con el autor, 13-09-1988.[4] Fr. Fernando, Fr. Ivo, Fr. Betto, O canto na fogueira. Cartas de três dominicanos quando em cárcere político, Petrópolis, Vozes, 1977, pp. 39 e 120.[5] Frei Betto, Cristianismo e Marxismo, Petrópolis, Vozes, 1986, pp. 35-37.
[1] Sociólogo. É um dos principias investigadores do mundo sobre o marxismo latino-americano. Reside em Paris, onde é diretor de investigações no "Centre National de la Recherche Scientifique" (CNRS)